O que pensam as profissionais de saúde que atuam na terapia intensiva sobre o papel da mulher na especialidade.
Dados do CFM – Conselho Regional de Medicina (Demografia Médica no Brasil 2023) mostram que as mulheres representam 33,5% das especialistas em medicina intensiva no Brasil. O número, apesar de crescente em comparação ao passado, reforça a desigualdade no que diz respeito à equidade de gênero nas UTI brasileiras.
Ao analisarmos pelas regiões do País, a diferença é ainda maior: na região Norte, por exemplo, as mulheres representam apenas 3,1% das médicas intensivistas, e no centro-oeste 8,3%.
Mas apesar da desigualdade, as mulheres vêm conquistando seu espaço e mostrando o quanto o papel feminino e suas habilidades específicas são essenciais em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Nesse Dia Internacional da Mulher, a AMIB colheu depoimentos de intensivistas de destaque, para compreender melhor a visão dessas profissionais da saúde sobre o tema. Acompanhe:
– Mariza D’Agostino Dias (SP) – Fundadora e Primeira Presidente da AMIB
Como a vivência diária na UTI me transforma como pessoa ou como mulher?
A vivência diária na UTI me motiva a ensinar os mais jovens, mas também a aprender com eles, porque algumas vezes eles têm alguma informação nova.
Como mulher, como minha presença impacta ou transforma a UTI
Na UTI sou tratada com muito respeito e consideração pelos colegas e demais profissionais, pois acredito que “para decidir alguma questão tenho de ouvir todas as partes envolvidas”. Assim, acredito que, na maioria das vezes, tomo decisões justas.
Cíntia Johnston (SP) – Presidente do Departamento de Fisioterapia
Como a vivência diária na UTI me transforma como pessoa ou como mulher?
Considero a UTI uma oportunidade de viver para os doentes graves que precisam ser assistidos por uma equipe multiprofissional extremamente qualificada e treinada; este ambiente contribui diariamente para minha evolução como ser humano e mulher, ao exercer a empatia e a resiliência com consciência de oferecer as intervenções mais assertivas e seguras possíveis para aqueles que depositam suas esperanças em nós.
Como mulher, como minha presença impacta ou transforma a UTI?
O olhar feminino não é em 3D, mas em 5D (risos). Além disso, a personalidade feminina traz o “amor de mãe” para o cuidado do paciente gravemente doente associado à razão e às habilidades femininas em desempenhar diversas ações simultâneas, qualidades importantes neste ambiente.
Débora Soares Santos (MG) – Departamento de Enfermagem
Como a vivência diária na UTI me transforma como pessoa ou como mulher?
Ao trabalhar na unidade de terapia intensiva (UTI), as minhas experiências diárias transformaram-me como profissional e pessoa, pois a dinâmica de trabalho exige um desenvolvimento de várias competências, que vão para além do conhecimento científico e clínico. Aprende-se a ter um olhar treinado sobre os pacientes e suas famílias, a fim de atender além das demandas físicas as “humanas”, sim, humanas. Porque é frequente que o paciente tenha de superar constantemente o medo e sua vulnerabilidade. E, sem dúvida, nosso olhar de mulher é fundamental para isso, esse “superpoder” de perceber tudo a sua volta – ambiente, equipe, o paciente e sua família- o que possibilita o planejamento do trabalho e condução dos seus pacientes de forma cientifica e humana. Ou seja, algo que talvez seja inato é fortalecido e apurado na UTI, e isso, certamente, nos transforma. Entender que em um ambiente muitas vezes duro, além de toda a tecnologia, nossa sensibilidade é uma potência transformadora.
Como mulher, como minha presença impacta ou transforma a UTI?
A mulher representa um elo, com suas atitudes éticas, coerente e capacidade de comunicação entre todos os profissionais. Favorecendo um o ambiente humano, conduzindo o cuidado a sua a equipe e o binômio paciente/família. Traz consigo essa característica de transformar o ambiente de trabalho, a partir da sua empatia e gentileza, agregada à sua capacidade profissional, transformando o ambiente de trabalho em um local onde todos desejam estar.
– Flávia Ribeiro Machado (SP) – Comitê de Sepse e Infecção
Como a vivência diária na UTI me transforma como pessoa ou como mulher?
A vivência diária na UTI me transforma como pessoa, porque me torna mais empática; como mulher, me faz capaz de lidar com vários desafios ao mesmo tempo.
Como mulher, como minha presença impacta ou transforma a UTI?
Como mulher minha presença transforma a UTI porque a torna mais humana, mais próxima, mais empática.
Rosane Sonia Goldwasser (RJ) – Comissão de Pós-Graduação da AMIB
Como a vivência diária na UTI me transforma como pessoa ou como mulher?
Faço o que gosto na medicina, mas também tenho muitas outras coisas que gosto de fazer. A UTI me transformou numa pessoa mais decidida, as pessoas me veem como uma mulher corajosa. Por um lado, é bacana, mas, por outro, tenho que controlar para não subestimar queixas não tão graves quanto aquelas que vivenciamos na UTI. Difícil foi conciliar minhas atividades laborais com tarefas de casa; difícil ter, como mulher, uma dedicação completa e total à profissão; requer muito equilíbrio.
Como mulher, como minha presença impacta ou transforma a UTI?
Muitas vezes, os familiares me perguntaram onde estava “o médico”. A figura feminina, como todos conhecem, não combina com a dinâmica da UTI. Por outro lado, o lado mais humano e empático vibra mais nas mulheres, fator que impacta na dinâmica da UTI.
– Patricia M. V. de Carvalho Mello – Diretora Presidente Futuro
Como a vivência diária na UTI me transforma como pessoa ou como mulher?
Sendo intensivista, aprendi rapidamente que cada minuto conta, que em um pequeno momento, uma vida inteira pode ser restaurada…E assim, como mulher, aprendi a valorizar cada momento que de fato importa…essa vivência certamente me tornou uma melhor filha, uma melhor mãe, e foi decisiva para que eu me tornasse uma mulher plenamente consciente do que me faz feliz. Nenhum desses minutos ou momentos passa despercebidos por mim!