Continuando com a editoria “Bate-papo com ESPECIALISTA”, nós da Associação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB – seguimos trazendo conteúdo de saúde para seus associados e para a população em geral.
Periodicamente, sempre na aba de notícias do portal AMIB, a Diretoria Executiva convidará um Especialista para participar de uma rápida entrevista e esclarecer pontos importantes para o acompanhamento, da população, em relação a um tema específico de saúde.
É um fato comprovado na literatura médica que as visitas animais surtem um efeito positivo no prognóstico dos pacientes, aumentando suas chances durante tratamentos e deixando o clima mais leve durante uma internação. Por isso, hoje conversamos com o Dr. Rodrigo C. Rabelo, médico veterinário e presidente do Grupo de Estudos Veterinária da AMIB, para falar sobre a importância da visita pet nas UTI e os avanços legislativos e protocolares feitos sobre o tema. Confira a entrevista abaixo:
AMIB – Em primeiro lugar agradecemos a sua participação, colega Dr. Rodrigo Rabelo. Sabemos que o senhor, em conjunto com o departamento de psicologia da AMIB, está trabalhando num documento de diretrizes para a visita pet nas Unidades de Tratamento Intensivo. Por que é importante a visita do pet na UTI?
Dr. Rodrigo Rabelo – Podemos incluir a visita pet no contexto da Terapia Assistida por Animais (TAA). Afinal, esse tipo de visita pode ocorrer de duas formas: aquele animal que faz parte da família e, obviamente, tem uma conexão grande com o humano que está hospitalizado ou por meio de instituições que utilizam animais para realizar terapia e tornar o ambiente hospitalar mais leve. Isso funciona muito bem na pediatria, geriatria, oncologia e com as pessoas que muitas vezes não contam com familiares para participar no momento da internação, assim como pacientes que possuem uma forte conexão afetiva com seus animais.
Existem evidências que indicam a melhoria do prognóstico do paciente com a visita dos animais, assim como com grupos que trazem atividades artísticas e criativas para os hospitais.
AMIB – E existe alguma diferença entre a visita pet e a TAA?
Dr. Rodrigo Rabelo – Os conceitos se cruzam, não é mesmo? Porque quando há a visita de um animal que é seu, eu entendo que é uma visita familiar, mas com efeito terapêutico! Portanto, são dois corredores terapêuticos relacionados, mas psicologicamente diferentes, que produzem efeitos similares e seguem as mesmas diretrizes.
AMIB – Quais são os protocolos necessários para a visita do pet?
Dr. Rodrigo Rabelo – Essa é a construção das diretrizes que estamos tentando oficializar na RBTI. Hoje temos uma sugestão protocolar aprovada pela direção da AMIB, e essa oficialização servirá como uma porta de entrada para que as pessoas utilizem o documento para facilitar essas visitas.
Por lei, o hospital não pode proibir um animal familiar de visitar o paciente internado. Ao mesmo tempo, é de obrigação de todo hospital se preocupar com os riscos sanitários que essa visita pode trazer aos humanos e também ao animal.
Por isso, eu diria que o protocolo atual seria procurar um médico veterinário para fornecer o atestado sanitário e a recomendação de transporte. Depois disso, levar a documentação ao hospital para que junto ao setor de psicologia consiga a liberação para agendar essa visita.
É preciso cuidado, entretanto, já que é um fato documentado que animais que regularmente frequentam hospitais ou que têm acesso às famílias de profissionais da saúde se colonizam com bactérias multirresistentes hospitalares. Isso produz um risco grave para saúde pública pois esse animal retornará para ambientes que não possuem este tipo de microorganismo, como o seu próprio ambiente doméstico, pet shops ou o médico veterinário. Essa perspectiva combate a narrativa de que o anima é quem vai levar as bactérias para o hospital, quando potencialmente o que ocorre muitas vezes é o oposto.
É uma discussão que ainda ocorrerá por um tempo para que se crie um consenso da melhor forma de levar esse animal até o paciente.
AMIB – Além de bactérias, existem riscos de que os animais se tornem vetores para vírus?
Dr. Rodrigo Rabelo – Se o animal faz parte de alguma ONG e, como dito anteriormente, visita hospitais frequentemente, ele passa a ser um visitante de risco potencial e requer atenção. Já um animal doméstico, que visita seu dono apenas uma ou duas vezes, não seria um problema de maior amplitude.
Quando falamos em vírus, se analisarmos o Covid-19 como exemplo, os animais não são transmissores para humanos, mas podem contrair o vírus de um humano e infectar outros animais, dependendo da espécie. Já a raiva, leptospirose e outras zoonoses podem ser transmitidas de animais para pessoas e, por isso, é importante ter o atestado do veterinário de que o animal está saudável no momento da visita hospitalar.
AMIB – Nas diretrizes sugeridas existe uma indicação que permite apenas a visitação de cães e gatos. Por que outros tipos de animais não estão inclusos?
Dr. Rodrigo Rabelo – Como a maior porcentagem de animais que visitam hospitais são cães e gatos, nós conseguimos entender e controlar melhor os tipos de cuidados que devemos ter com estas espécies. Quando nos referimos às aves e répteis, por exemplo, os cuidados são bem diferentes e exigirão diretrizes específicas.
A ideia é que quando surgir a demanda de visita de outras espécies, o hospital estude as possibilidades e crie uma força-tarefa para alcançar a melhor decisão.
AMIB – Quais são os principais cuidados de higiene necessários antes da visita pet?
Dr. Rodrigo Rabelo – O primeiro é a passagem pelo veterinário para se assegurar de que ele não apresenta nenhum risco ao hospital. Depois disso, cuidados básicos de higiene antes da visita, o uso de sapato ou propé para o trânsito no hospital e, imediatamente após a visita, encaminhar a um veterinário com pet shop para um banho acompanhado.
AMIB – Durante a visita, como funciona a interação entre pet, equipe e paciente?
Dr. Rodrigo Rabelo – O ideal é evitar qualquer tipo de contato da mucosa animal com a pessoa, mas esse não é um cenário realista. Em um reencontro familiar é comum que as pessoas se emocionem e queiram abraçar ou beijar seu animal, e isso gera uma melhora no psicológico do paciente muito grande. Portanto, o correto é deixar que o animal – já atestado pelo veterinário – expresse sua alegria e carinho e depois realize a higienização com álcool ou água e sabão, de acordo com a área afetada.
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